12/11/12

meu querido Julien,
lembro-me de quando íamos para a aldeia fazer as nossas triquinices de criança. nas férias de natal do ano passado, passei por lá, e recordei que nós tínhamos enterrado uma caixinha com uma carta e com duas fotografias nossas junto do trilho do comboio. depois de estes anos todos, não esperava encontrar o nosso pequeno tesouro. mas a verdade, é que encontrei. abri a caixa. e estava lá tudo direitinho como deixamos, exceto um pequenino envelope envolvido numa saquinha de um tecido qualquer vermelho. como sabia que não tínhamos sido nós que lá a deixamos, abri e decidi começar a lê-la. começava mais ou menos assim: «Cara Catarina e caro Julien, espero que um dia regressem a este solitário lugar. Aqui a senhora da casa ao lado - a dona Miquinhas, sabem? - faleceu e ao demolirmos aquela velha casa, descobrimos esta pequena caixa no meio da terra (...)». e o senhor lá continuou a escrevinhar para nós. ele relatou que se sentiu orgulhoso de ter sido ele a encontrar aquilo. e pouco mais ele acrescentou. no final, ele assinou a carta como: «Aquele senhor que vos dava as bolachinhas de chocolate, José.» e colocou a data do dia vinte e três de maio do ano de dois mil e nove. e como o Jorge te deve ter dito, ele faleceu a vinte e nove de maio desse mesmo ano. voltei a por a carta dele no lugar onde ele próprio o deixou e decidi ir perguntar à tia Rosa se sabia onde o Sr.José estava sepultado. ela disse-me que estava no cemitério do centro da cidade. resolvi pegar na minha carteira e partir em direção à paragem das camionetas. chegada ao cemitério, procurei a sepultura do próprio. encontrei-a. sentei-me no chão, tirei um caderno e uma caneta da minha carteira e comecei a escrever uma carta para ele, assim como ele fez para nós. disse-lhe que estávamos muito gratos pelo que ele tinha feito por nós e agradeci por todos os conselhos que ele nos deu. deixei lá a carta, num saquinho de veludo e vim embora.
com amor me despeço de ti, tânia.

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